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  • Foto do escritorSandra Tavares

Sinais e ciclos

Atualizado: 26 de jul. de 2022


Quando alguém que amamos não está mais no meio de nós, é preciso abrir-se para compreender que existem outras formas de se comunicar com esta pessoa. É preciso criar uma abertura interna tal, que seja possível vê-la sem vê-la.

Parece que foi ontem que ouvi, sentada em um consultório totalmente em sofrimento, uma psiquiatra jovem e sensível me contar a seguinte história íntima e especial: ela o pai e o irmão estiveram juntos visitando o Museu Augusto Ruschi, em Santa Teresa-ES, tempos antes da partida do pai com câncer. Dali para frente nunca mais ela deixou de perceber beija-flores a visita-la em seu andar, no alto de seu prédio.

"Sinto muito por sua perda Sandra. Viva o seu luto. Um dia vai começar a parar de doer e vai ficar uma saudade gostosa...mas dê tempo ao tempo". Com essa frase eu segui meu tratamento, juntamente com a terapia. Mas as caminhadas ao sol tinham desaparecido. Nunca mais caminhei. Porque a caminhada que tentei fazer após a perda de minha mãe tinha sido como uma marcha fúnebre. E não repeti.

Os sinais estão aí...para quem possa ser capaz de lê-los. Durante o tratamento com uma medicação para não deprimir, e já com alguns meses sem minha mãe, recebo lá em cima no 16o andar, em um dia de muita ventania, a visita ilustre de uma borboleta. Ela estava sem uma das caldas. Fiquei paralisada observando, enquanto um amigo de trabalho elogiava sua beleza e ainda comentava se não seria bom retira-la dali, já que ela poderia ficar presa e o destino de toda borboleta é voar.



Bem...eu tratei logo de ir para a internet e descobrir o tipo de borboleta que ela seria...no início pensei que fosse uma calda de andorinha...mas depois me convenci que ela se parecia demais com uma rabo de dragão verde. Lembrei demais das visitas de beija-flores a minha médica. Pensei demais que poderia ser ela a me dar um 'oi...passei apenas para lhe dizer que estou bem...'.

A palavra borboleta deriva do latim 'belbellita' e significa belo, bom. E como foi bom perceber esse sinal tão belo em minha frente. O verde deixava aquela mensagem de esperança de nos vermos de novo...e de nos abraçarmos de novo um dia. A calda faltante parecia me lembrar que nem tudo precisa estar perfeito para continuar belo, bom.

A simbologia das borboletas em diferentes culturas são muito significativas: despertar do ser; renovação na forma de pensar, sentir e agir; fase de transformação da existência; despertar das potencialidade do SER; para algumas religiões é símbolo da reencarnação; na visão espiritual, representa o desenvolvimento da alma.

O tempo foi passando e a medicação psiquiátrica terminou...as sessões de terapia foram sendo espaçadas até terminarem...e eu continuo praticando o taiji, lendo, fazendo minhas dobraduras de origami, e nadando com meu caçula. O nado de costas me faz olhar para o céu azul...e me faz pensar que ela está ali...em meio àquelas nuvens....como no filme Nosso Lar.


Fico imaginando o que ela estará fazendo, suas companhias, como estará se sentindo...e se estará sentindo saudades de nós como aqui estamos dela. Tem dias que lavando a louça ou fazendo o ato mais corriqueiro, bate uma saudade avassaladora. Mas prefiro pensar no Nosso Lar, nela cheia de irmãos e irmãs de luz com ela...e que o tempo é apenas uma bela fachada...que um dia estaremos nos revendo, nos abraçando. E converso com ela no carro, em casa, em qualquer ocasião. Penso naquela cidade bonita lá do alto...de onde ela pode ver a terra inteira...e pode inclusive nos visitar quando é permitido.


E além dos sinais, precisamos estar atentos aos ciclos, quando começam e quando se encerram. Estou em luto ainda pois o tempo caminha para o primeiro Dia de Finados sem minha mãe...e daqui a bem pouco tempo para o 1o ano sem ela fisicamente. Estou me trabalhando, conversando internamente, orando. e fazendo esse balanço interno da Sandra que fui com a minha mãe e da Sandra que estou sendo agora sem ela fisicamente. A vida continua...a dela e a minha...cada uma de um lado (visível ou invisível).

Nessas férias me lembrei dela em tantos momentos...ao ver senhorinhas dentro de um avião indo a Bsb visitar familiares e tricotando como sei que ela fazia quando ia me ver...ao encontrar um livro precioso que uma amiga me indicou... de Ana Cláudia Quintana Arantes, chamado A morte é um dia que vale a pena viver...(assim como antes havia lido A arte de morrer, de Jean-yves Leloup e Marie de Hennezel)...e ao adentrar a Igrejinha da 108 Sul, com seus azulejos de pombas da paz...e chorei...e meu filho foi o ombro...um guardanapo na bolsa foi a folha e ali deixei o pedido que meu filho incluiu na caixinha...que onde quer que ela esteja...que ela esteja bem. E que eu consiga ter sabedoria e proteção para seguir a minha jornada.

Pude rever amigas queridas, rever lugares que não cabem mais na mesma memória de antes...visitar uma cidade outra que só está no meu coração. Sentir a secura...a aridez de tudo aquilo que não serve mais...pois os lugares mudam,,,e nós mais ainda.

Como uma chave encaixando na fechadura errada, a gente percebe que tem que...ou ver qual é a porta ou qual é a chave que encaixa ali...sigo sabendo que nem a chave e muito menos a porta são as mesmas mais. Tudo mudou. Tudo muda. E o que seriam dos chaveiros se não houvesse a troca de chaves e de portas? O chaveiro é a vida, Deus, Anjo de Guarda...as chaves e portas somos nós e as possibilidades existenciais que não encaixam mais...não nos servem mais,,,seja trabalho, relacionamento, perda...o que for.

Muito recentemente resolvi ir caminhar...para ver o que iria sentir. Consegui dar os passos, ouvir a música e sentir uma chuva fina no meu rosto, como um batismo ou a emoção dela lá de cima a me dizer: 'que bom que vc saiu um pouco e foi caminhar'.

Depois desse dia já caminhei mais uma vez. E ouvi uma música do J Quest, um grupo musical, cuja letra pode muito bem ser considerada romântica, referindo-se à dois...mas que para mim parecia uma bela mensagem dela a me dizer...coisas lindas durante a jornada: Quando você se lembrar de mim


Quando você se lembrar de mim Pensar que tudo vai ficar bem Segura firme, lembra de mim Ahn... Quando você se lembrar de mim Dê um sorriso maior que houver Pensa que tudo valeu a pena sentir Ahn... Mesmo distante, te amo Me lembro dos planos de sermos um Que não há razão pra sofrer se você ainda está aqui Éié Quando você precisar de mim Lembra que eu estou bem aqui Perto do sol, pra quando você Se lembrar de mim... É... Quando você se lembrar de mim Numa canção qualquer que ouvir Pensa que toda canção vale a pena Ahn... E quando o sol tocar seus cabelos Nas fases da lua, nas frases de amor E até quando o frio pedir cobertor Ahn... E quando você se cansar de correr Eu vou estar bem aqui, no começo Quando você não souber pra onde ir, pode voltar pra mim Éié Quando você precisar de mim Lembra que eu estou bem aqui Bem perto do sol, pra quando você Se lembrar de mim... É... Quando você precisar de mim Lembra que eu estou bem aqui Bem perto do sol, pra quando você Se lembrar de mim... É... Ooh... E se você se esquecer de quem é É só, então, perguntar para mim Sei cada detalhe de quem é você... Ié... Quando você precisar de mim Lembra que eu estou bem aqui Perto do sol, pra quando você Se lembrar de mim... É... Quando você precisar de mim Lembra que eu estou bem aqui Perto do sol, pra quando você... É... Se lembrar de mim Ooh no baixo É... Quando você precisar de mim Lembra que eu estou bem aqui Perto do sol, pra quando você Se lembrar de mim É... De mim


Fonte: Musixmatch

Compositores: Marcos Tulio De Oliveira Lara / Paulo Alexandre Amado Fonseca / Rogerio Oliveira De Oliveira / Marcio Tulio Marques Buzelin / Paulo Roberto Diniz Junior / Wilson Da Silveira Oliveira Filho


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