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quarentena e vazio

Foto do escritor: Sandra TavaresSandra Tavares

Desde o dia 19 de março estou em casa com meu esposo e meus dois filhos seguindo o que nos solicitam as autoridades na área da Saúde, em virtude com Novo Coronavírus. Entre a rotina de cuidados com a casa, refeições, homescholling e teletrabalho já experimentei diversas emoções. Desde a alegria extrema de estar com todos eles, em casa, sãos e salvos desse vírus que tem vitimado tantas pessoas e deixado tantas famílias soterradas pela dor e pela perda de seus entes queridos...à tristeza profunda de ver tantos irem...de sentir a dor desse momento de transformação que envolve a todos nós,,,e mesmo a sensação de privação do direito de ir e vir...da saudade de permanecer em meus momentos na natureza como nas caminhadas e na prática do tai chi chuan com o grupo do condomínio onde moro.



Maya, a mãe de Buda...nesta foto representada com seu rebento no colo...não imaginava o percurso e caminhada que seu filho faria para nos ensinar o que é iluminação, não é mesmo? Provações, dores, perdas, alegrias e tristezas...Buda viveu muita coisa...até alcançar aquilo de que todos nós estamos em busca...a iluminação, a paz, a bem-aventurança de estarmos felizes no aqui e no agora. Nem ontem...e nem amanhã. Uma mente calma, serena e silenciosa.


O novo coronavírus está de fato nos ensinando muitas coisas. Nunca tivemos tanta oportunidade de estarmos no aqui e no agora. De permanecer na companhia daqueles que nos são caros...sem os quais a nossa vida perde o brilho e o sentido. Estamos numa escola diária de como nos esvaziar. Sim o vazio. Aquele que tanto buscamos nas práticas como tai chi chuan, qi kung e meditação taoista. O vazio. Somente ele. Mais nada.

E se quarentena significa quarenta...fui fazer uma conta simples: 40 = 4+0=4 e buscar respostas espirituais para o que estamos vivendo como humanidade e como Planeta Terra.


No Tao The King o poema 4 dialoga conosco assim:


O Tao flui sem cessar
No entanto, na sua atuação, ele jamais transborda.
Ele é um abismo, parece o ancestral de todas as coisas.
Abranda a sua dureza.
Desata os seus nós.
Modera o seu brilho.
Une-se com a sua poeira.
É profundo, mas como é real!
Não sei de quem possa ele ser filho.
Parece ser anterior a Deus.

Sim! O Tao é anterior a Deus! O Tao está na natureza...e o homem tem diariamente atingido a natureza, E que desafio ler essas palavras e tentar ser uma pessoa melhor na quarentena, com meu esposo e filhos...com minhas poucas plantinhas de apartamento...com a gata que temos conosco...de buscar ler e ouvir apenas aquilo que nutra a minha alma, para que esse alimento entre e passe para aqueles que estão convivendo comigo esses dias todos.


Estamos como barcos de papel nesse mar do desconhecido...que dia sairemos de casa? Podemos prever, torcer pelo dia x, Y ou z...mas de fato não sabemos o dia nem a hora que colocaremos nossos pés de novo em 'terra firme',,,protegidos do virus. Mas podemos acrescentar um pouco de doçura e bom humor no caminho...como as jujubas nesses barquinhos de papel. Podemos experimentar sermos doces, carinhosos e pacientes uns com os outros. É possível e vale sempre a pena!


Reconhecer que não daremos conta sozinhos. Como eu preciso de ajuda, e vi filhos arrumando a mesa, ajudando a dar água e ração pra gata. Vi o esposo, mesmo após uma cirurgia no pé, cuidar de tarefas como a roupa, entre outras. Reconhecer tudo que esse poema traz no dia a dia de um lar, na concretude de uma Família. Sim abranda a nossa dureza...e está desatando os nossos nós. Sinto que está moderando o meu brilho...e se unindo com minha poeira... A paciência e amor mútuos...as brincadeiras...o bate-papo sobre seres pré-históricos no almoço...ou sobre como um tubarão pode ser tão perigoso pelo seu tamanho, dentes e força...tudo isso tem o quê de TAO.


O I ching Livro das Mutações, nos traz ainda:

4. MENG / A INSENSATEZ JUVENIL Acima KÊN, A QUIETUDE, MONTANHA. Abaixo K’AN, O ABISMAL, ÁGUA. Este hexagrama nos apresenta a juventude e a insensatez de duas maneiras. O trigrama superior, Kên, tem como imagem a montanha e o inferior, K'an, tem como imagem a água. A fonte que brota no sopé da montanha é a imagem da juventude inexperiente. O atributo do trigrama superior é a Quietude, o atributo do inferior é o Abismal, perigo. Manter-se imóvel e perplexo diante de um perigoso abismo é também um símbolo de Insensatez Juvenil. Mas os dois trigramas indicam ainda o caminho através do qual a Insensatez Juvenil pode ser superada. A água tende necessariamente a seguir fluindo. Quando a fonte brota, não sabe, a princípio, para onde se dirigirá. Entretanto, através de seu constante fluir preenche as depressões que impedem seu progresso e assim atinge o sucesso.

Como somos, enquanto humanidade, essa juventude e sua insensatez, diante da natureza, diante uns dos outros em nossas relações humanas. Somos jovens inexperientes na arte de amar uns aos outros, de cuidarmos uns dos outros sem esperar absolutamente nada em troca, apenas amar e nos doar, como Madre Tereza em sua infinita entrega aos pobres e aos mais necessitados. Montanha remete à quietude já a água tem a dimensão de sua profundidade...de abismo...busquemos ser mais montanha e menos abismo nesses dias. Busquemos amadurecer esse jovem inconsequente que há em nós....saindo pro extremamente necessário, usando as medidas protetivas como higienização e máscara. Sejamos cuidadores uns dos outros,,,enquanto humanidade!


Não estamos presos como aqueles que se encontram em cárceres, Estamos em nossos lares. No conforto de nossas camas e tendo sobre a mesa o santo alimento. E mesmo assim não podemos mudar a rota e deixar de nos comportarmos como jovens inconsequentes, impacientes e birrões? Será que não dá para reconhecer que Deus está a nos proteger e a nos cuidar esse tempo todo??? Sejamos alegres, felizes, humildes e gratos com tudo isso. Quem sabe nossas mães, como Maya, a mãe de Buda...não possam se sentir plenas de ver que a jornada mesmo cheia de altos e baixos, redundou em nós - seus filhos - mais iluminados...digamos...melhores.


Boa quarentena a todos os pacientes de coração! E não esqueça: "Sorria que a vida sorri de volta"










 
 
 

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