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  • Foto do escritorSandra Tavares

O escolhido


O dia D...casado com minha mãe. O escolhido.

Não sai de minha cabeça a frase que ouvi de minha irmã de que mamãe, quando batia papo com ela, falava que quando trabalhava nas Casas Pernambucanas não faltavam pretendentes à sua procura na loja. Vários rapazes a cortejavam. E esperavam ser o Escolhido. Bem nem preciso dizer que o escolhido de minha mãe, desta vida inteira, foi um só: o meu pai. Um homem que, modéstia parte, vale a escolha sim! É um homem fora de série.

E pra evitar escrever como fiz com os textos de mâinha, apenas depois de sua passagem, quero mesmo é escrever este texto com o todo o amor que existe em meu peito, pois o cara vale cada linha...vale muitas e muitas palavras que nem cabem por aqui. Mas vamos lá!

O escolhido foi ele e eu sei porque. Primeiro porque ele era (e é) um gato. Heheheh. 'Babações de ovo à parte' papai chamava a atenção, E minha mãe não foi diferente....uma morena linda, de curvas bem desenhadinhas. Logo os dois juntos deviam causar um frisson.

Mas definitivamente quem escolheu quem já posso até imaginar. Ela escolheu ele. Porque se a mulher não quer, ponto final. E ele devia ser apenas mais um dos que apareciam para corteja-la na esperança de ser o escolhido.

Dessa escolha vieram 3 filhos, dois netos e muitos aprendizados, entre momentos alegres e contentes e desafiadores e difíceis. Mas eu, como a primeira filha, sempre fui apaixonada pelo meu pai desde pequenina. Ele era como um sol que chegava em casa depois do expediente como torneiro mecânico na Fosfertil, em Araxá-MG. E o que posso dizer é que sempre senti, foi um amor inundante que vinha dele para conosco, os filhos. Ele sempre contava as histórias da gente pequenino. E sempre foi o típico pai coruja. É.


Ele e meu irmão Johelder, ainda bebê...ano de 1976 para 1977.

Do meu pai eu tenho tanta coisa que a lista seria bem complicadinha de detalhar neste texto. Mas eu herdei dele uma das coisas que mais admiro nele...e que está naturalmente em mim. O amor pela investigação, do céu, das estrelas, de Deus e deuses, desse TEO...sobre o qual a teosofia tanto se debruça. Ele sempre foi um estudioso do mistério. Tanto que me lembro dele ingressando junto com minha mãe em grupos de estudos esotéricos, tentando entender o sentido de estarmos aqui, fazendo o quê mesmo?


Ele é o primeiro homem da minha vida. E o primeiro homem a gente nunca esquece, não é mesmo? Sempre foi atencioso. Chegávamos na adolescência com as mais diferentes perguntas. E lá estava ele disponível para responder uma a uma. O sonho de toda mocinha sempre foi encontrar o seu par...ele sempre tinha uma frase pra mim: 'não tenha pressa minha filha, pois a pessoa para você está em algum lugar com uma lanterna, como que procurando algo muito precioso no escuro, e esse algo precioso é você'.


Este homem me ensinou, de muito tempo, o tempo da espera. Esperar. Acreditar. Depositar sua intenção em algo de melhor que virá. Isso dinheiro nenhum deste mundo compra.


São memórias ainda tenras na idade. Eu triste deitadinha na cama na hora de ir dormir e ele chega e eu falo que estou triste porque não sei as horas no relógio de ponteiro. O que ele mais do que prontamente saca seu relógio do pulso, e me diz: vamos lá.,,este ponteiro menor marca as horas tá vendo? e as horas vão evoluindo de 1 hora da madrugada até meia noite...já o ponteiro maiorzinho marca os minutos...e a cada pedacinho desse são cinco minutos. Então me diga que horas são agora?...e assim ele foi me ensinando O TEMPO.


Esse tempo que passa. Esse tempo que voa. Mas ao mesmo tempo esse tempo que se imortaliza em frações de segundos de coisas maravilhosas e inexplicáveis que nos acontecem. Quando o AMOR nos acontece, seja em qual fração de segundos for. Este amor nos marca para sempre. Forever como dizem os gringos. A mesma fração de segundo que me faz ver e saber que ele é o primeiro taoista que eu conheci dentro da minha casa...no meu mundo de menina. Amante do mistério, leitor voraz das coisas do mistério. Apaixonado pelos astros e suas energias. Astrologia, teosofia, religião comparada. Um cara que conhecia o Qi (chi) antes mesmo de eu imaginar que estudaria e amaria tanto essa área de autoconhecimento.


E sabe, ele é um avô muito interessante. Ele adora beijar os cabelos dos meninos quando chegam para vê-lo. De ficar apenas olhando eles como se olhasse pequenos tesouros. Fala menos agora. Já foi mais falante no passado e hoje economiza, como dizem os taoistas poupa sua energia. Mas os meninos o curtem...bem do jeitinho deles. E se preocupam com ele. Como já ouvi de Gabriel 'mãe, agora que meu vô está morando com a tia Joana quem sabe ele não vai ficar mais contente'.

Sempre foi aquele que dialogava comigo sobre todas as religiões, sempre de forma comparada e falando que todas caminham para um único lugar, o Amor.

Ele foi corajoso para experimentar o amor mais de uma vez, e é até hoje um homem extremamente disciplinado com finanças - o que nós três herdamos de forma tão bela. Ele me dizia, quando menina, dentro do chaveiro: 'Um homem que não bate ninguém à sua porta, atrás de suas dívidas, é um homem que põe a cabeça no travesseiro em paz'.

Lembro-me de meu primeiro namorico da igreja, na calçada e ele me chamar para uma conversa franca: 'Vc vai querer ficar nisso aí ou quer entrar numa universidade?' o que eu prontamente disse 'A faculdade pai'...Ele foi certeiro depois: 'pois dê um tchau pra esse rapazinho aí na calçada mesmo e diga que se ele quiser te esperar vc este ano vai estudar pra passar na universidade e que assim que sair o resultado vc retorna o namoro com ele'. Eu sempre fui uma pessoa decidida...e achei a proposta bem interessante, afinal ele me esperaria - o tal namorico.

Pois eu estudei, passei e o namorico desfilou no bairro com 'a próxima da fila'...porque a fila dele andou. E eu fui conhecer o amor de minha vida na universidade. O pai é um visionário. Ele sempre me mostrou - o que você tem aqui na sua frente, com um pouco de ambição e muita disciplina você alcança muito mais lá na frente. Da boca dele ouvi sobre Cristo, Buda, e tantos outros mestres. Ele não tinha apego e nem se agarrava a um, pois vê a beleza em todos os iluminados.

Pai, eu gostaria que você soubesse o quanto nós o amamos. Você é especial! Você conseguiu 'tirar leite de pedra', 'dar nó em pingo dágua'...ao trazer sua família do Nordeste, de longe de suas raízes, de sua grande família, em uma época que as condições lá não eram favoráveis, para buscar o melhor para seus filhos, e a colheita foi frondosa e reluzente, né!?

Todos com trabalho, todos bem. Os netos enchendo sua vida...aquela que te escolheu não está mais aqui fisicamente, mas ela está em amor e em verdade...pois ela era igualmente especial como você. Vocês formaram um par físico muito lindo, e um par espiritual mais lindo ainda!


Ele é o homem cuja profissão foi chaveiro, que abria portas e conhece os segredos (das chaves, portas, cadeados e cofres), mas fundamentalmente o segredo de viver na simplicidade, sem agarrar nada.


Por tudo OBRIGADA, OBRIGADA e OBRIGADA!

TE AMAMOS!

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